quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Um ano!

Quase esqueci que os primeiros 365 dias no Japao ja se passaram.

O primeiro post, que e a reproducao do primeiro e-mail que mandei aos amigos a partir da terra onde nasci, traz a data do dia do meu desembarque em Narita.

E uma constatacao idiota, mas hoje posto a partir do Japao porque a sociedade e economia japonesa permitem, como melhor explicado nos proximos posts.

Continuacao do post anterior

O Japao que era mais fresca na minha memoria era o Japao da bolha economica, nos anos 80.

Os anos 80 em que a raca dominante era dos “salarymen”, palavra inexistente no dicionario anglo-saxao mas que representa o verdadeiro heroi japones, nao aquele que usa armas a laser, que voa ou mata alilenigenas que querem destruir a Terra, mas aquele que usa camisa social, pega trem lotado todos os dias, fica no trabalho ate de madrugada todos os dias e que a partir do trabalho transformou cinzas em potencia economica.

Os salarymen sao hoje uma raca em extincao. Nem todos os salarymen unidos conseguiram mudar a realidade trazida pela globalizacao, a forte concorrencia globalizada e os tempos de fusoes e aquisicoes, que acabaram alterando o meio ambiente em que estes seres se proliferavam.

Graduados, eles nao escolhiam a profissao e sim a firma onde iriam passar o resto da vida e boa parte dos dias e noites antes da tao esperada aposentadoria. Ofereciam lealdade, suor, choro e sangue por uma empresa que em troca ofereciam tudo o que os salarymen e sua familia precisavam, desde subsidio para moradia ate o hotel para passar ferias. Tempos em que se poderia dizer que o Japao era onde o socialismo deu certo.

Mas o fim da era da pujanca forcou as empresas a mudarem. Eles nao poderiam mais permitir tantos beneficios e os tempos bicudos fizeram com que eles trocassem os salarymen pelos contratados temporarios.

E e ai que eu entro.

Foi no pos-bolha que comecou a haver uma maior entrada de estrangeiros no mercado de trabalho que, como eu, vem para ocupar o espaco que ha 20 anos teria sido ocupado por um heroi japones. E foi no pos-bolha que aumentou a absorcao de mao-de-obra estrangeira barata para suprir os postos de trabalhos que os japones se recusavam a assumir.

Mas nao sao so os estrangeiros que simbolizam o novo tempo do mercado de trabalho japones.

Continuacao do post anterior

Muitos jovens recem formados nao se imaginam mais dedicando uma vida inteira a uma so companhia como seus pais costumavam fazer.

Hoje vemos tambem mais mulheres nos postos de trabalho pois muitas deixaram para tras o estigma de que mulher boa e a mulher que fica em casa cuidando da casa, dos filhos e do marido – salaryman - que chega bebado depois de um dia de trabalho duro que terminou em algum “cabacura”. Se for para casar e deixar a carreira de lado – ainda e uma escolha de uma minoria conciliar trabalho e casamento - tem que valer muito a pena, o que acaba resultando em casamentos tardios ou ate em nao-casamento, o que por outro lado acaba contribuindo ainda mais para a reducao cada vez maior de nascimentos – Este ano por exemplo registrou-se o numero mais baixo de pessoas atingindo a maioridade.

Temos tambem mais ex-aposentados de volta ao posto de trabalho para exercer funcoes idiotas como ficar cumprimentando com um abaixar de cabeca os clientes que entram nas agencias bancarias. Tao desafiador quanto ficar apertando botao de elevador, mas que acaba sendo inevitavel por conta do quase colapso do sistema previdenciario japones, resultado de uma populacao com cada vez menos novos ingressantes no mercado de trabalho para sustentar uma populacao cada vez mais numerosa de pessoas que vivem cada vez mais.

Temos tambem os “arbubaitaas”, que trabalham em esquema de “arubaito” (originada do alemao “arbeit” ou trabalho), e prestam servicos diversos para diversas empresas, onde ficam somente por curtissimos periodo de tempo, de um dia a algumas semanas. “Bico” em bom portugues. Os “arubaitaas” formam ainda um grupo que ficou famoso por morar em cyber cafes. Como a moradia e cara e eles nao possuem uma fonte de renda certa, razoes que os impedem de alugar um apartamento, a solucao para essas pessoas e passar as noites em cyber cafes, onde eles encontram nao somente acesso a internet, como podem assistir a DVDs, ler revistas, jornais, mangas, tomar cha e agua e banho a precos equivalentes a poucas dezenas de reais por noite e sobreviver comendo lamen ou um sanduba no Macudo (ou McDonald’s) mais proximo.

Continuacao do post anterior

Ainda que os tempos sejam outros, a vida em uma empresa tradicional nao mudou muito. Pode-se dizer que as grandes corporacoes tradicionais que dominam a economia nacional como Mitsubishi, Toyota, Mitsui, Sumitomo, Matsushita e outras gigantes, sao os redutos dos ultimos representantes da especie mais tradicional de salarymen.

E nada e por acaso. Eles ainda gastam tempo em dinheiro com o processo de formacao dos Mitsubishiman, Mitsuiman e Sumitomomen. Para quem entra nestas empresas, pouco importa o que foi aprendido (ou nao) pelo recem-saido da faculdade. O que importa sao os treinamentos e a lavagem cerebral que sera aplicada ao longo do tempo – que formam um monte de gente que sabe de tudo um pouco e sem especializacao em nada.

Para os salarymen destas empresas, talvez a unica diferenca em relacao aos anos 80 e que a probabilidade de encontrar um alienigena ocupando a escrivaninha ao lado seja maior.

A crenca de que happy hours corporativos e parte do trabalho e a base do relacionamento, que por sua vez e a base dos processos decisorios por consenso que ainda vigora. Ainda continua a crenca de que nao se pode ir embora antes do gerente – ainda que nao se tenha absolutamente nada para fazer – pois a hora livre nao e sua, e da empresa. Continua tambem a ideia tambem de que para se passar as ferias, hospeda-se nos resorts controlados pela empresa, bebe-se a cerveja da companhia que faz parte do grupo, deposita-se as economias no braco financeiro da empresa e compra-se o carro fabricado por uma das empresas do grupo. Tudo que cerca o salarymen tem um carimbo da empresa, desde a caneta para fazer anotacoes ate o aviao para viajar nas ferias. Continua tambem o sistema de promocao por senioridade, que mais do que um problema, e uma solucao nos tempos incertos, pois e garantia de uma vidinha mais ou menos sempre estavel, pois ha a garantia de que o salario vai crescendo sempre proporcionalmente ao aumento dos gastos, o que permite que o mesmo padrao de vida para sempre.

Tudo isto tem um custo, mas a verdade e que as empresas japonesas sao pouco afeitas a buscar lucros. O importante e manter este sistema de protecao social, este emaranhado de participacoes societarias cruzadas, que por fim acabam ate protegendo-as de impetos aquisitorios de empresas estrangeiras. Ainda acredita-se que o socialismo pode dar certo no Japao.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Coisas que nao sabia sobre mim mesmo


Sair do trabalho e ir direto para casa para sozinho comer bento (marmita) de combini e beber algumas cervejas enquanto se assiste a episodios de maratona de 'Heroes'. Programacao perfeita para um loser?

Pois foi o que fiz na sexta-passada, quando a Sue teve um happy hour para comemorar o fim do trimestre com seus colegas de MBA.

Percebi que sempre gostei de super-heroi. Desde crianca, assistindo a herois japoneses, passando o comeco da adolescencia lendo gibis da DC e Marvel de colecao de terceiros ate chegar a idade adulta e vibrar com as adaptacoes de X-Men, Homem Aranha, Batman e companhia na telona.

E agora estou acompanhando e adorando "Heroes".

Sera que eu sou "otaku" e nao sabia?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

The same thing we do every night, Pinky. Try to take over the world!


Gosto de ser assistente da Sue nos seus estudos.

Leio varios cases com ela, debatemos, dou opinioes sob o ponto de vista legal, faco comentarios baseado no meu dia-a-dia em uma empresa global e ainda ganho conhecimentos sobre gerenciamento de pessoas e recursos e os segredos de uma empresa de sucesso.

E como se estivesse fazendo uma light MBA. No meu tempo e ritmo e ainda sem a responsabilidade de ficar fazendo licao de casa (ou assignments, porque e mais chique e global) nem o stress de ter de massacrar em sala de aula um colega com o senso de competitividade extremamente agucado por dia.

Estou tao envolvido e gostando tanto da experiencia que ate a vontade de virar CEO e dominar o mundo eu estou tendo!

Cerebro, o que faremos esta noite?