quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O verao, ah o verao

Verao e epoca de praia, sol, calor, barulhos ensurdecedores do “semi” (nao sei o nome em portugues desse bicho estupido de cerca de 10 centimetros e olhos esbugalhados que vive mais de 10 anos debaixo da terra, de onde sai durante o verao para viver so alguns dias) e raspadinhas. E tambem epoca de festivais de fogos de artificio e yukata.

O primeiro festival foi realmente um aprendizado. No caminho notamos o quanto eramos mirins nesta historia. Enquanto levamos so a carteira, o celular e a esteirinha, todo o mundo tinha levado a despensa da casa para fazer farofa. E dentre os pros, existem os mais pros ainda, aqueles que levam a sala de jantar inteira. Juro, vimos um casal com um conjunto de mesa, cadeira, toalha de mesa, vasinho com flor, tapetinho e tudo no meio do terreno baldio onde foi realizado o espetaculo.

E nao e para menos toda esta preparacao. Tive que esperar mais de uma hora na fila para conseguir comprar uns bolinhos de lula. Mas o bom e que e todo mundo muito educado, nao ha briga, desorganizacao ou malandro querendo furar a fila.

Mas o mais interessante sao os codigos de vestuario. Foi-me dito por um colega de firma que se a mulher com quem voce esta tendo um casinho chama-lo para ir a um festival de fogos de artificio, e porque o casinho e mais serio. Agora, se ela nao so chama-lo para ir ao festival, mas for de yukata, vamos assim chamar de um kimono modelo verao, ao local, e porque a coisa ficou preta e a mulher quer casar contigo.


Verdade ou nao a teoria, o fato e que quase todo mundo estava de yukata. Sentimo-nos um pouco peixes fora d’agua, mas ainda assim o espetaculo foi interessante.

Para quem esta acostumado a lidar com nanotecnologia de ponta deve ser piada fazer fogos de artificio. Vi coisas nunca dantes vistas. Imaginem voces que o troco sobe, explode e da explosao resulta a cara do Mickey, Doraemon, Smiley Face, dentre outros personagens. Isso sem falar nas cachoeiras, explosoes coordenadas que pareciam mais coreografia do que fogos de artificio. Impressionante.

Enfim, daqui a alguns festivais, quando estivermos bem pro, pretendemos levar a sala de estar pra podermos assistir aos fogos deitados. Ambos de yukata, obvio.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Justica seja feita

Ouvi dizer que o termo “pontualidade britanica” deve-se ao Big Ben instalado no predio do Parlamento e ao fato dele estar localizado em Londres, onde passa o meridiano de Greenwich. A origem do termo, portanto, e cheio de simbologia, beira a fantasia e nao corresponde aos fatos, pois mesmo os britanicos nao sao tao pontuais assim. Ora, se a intencao do termo e representar precisao e pontualidade, a inspiracao deveriam ser os japoneses.

Aqui os minutos sao importantes, quica os segundos. O trem chega as 8h11 - e nunca as 8h10 ou 8h12 - e gasta 3 minutos contados no relogio para chegar a proxima estacao, exatamente como esta indicado nos mapas localizados nas plataformas, de onde voce demora exatamente 3 minutos para chegar a exposicao do Modigliani, na forma indicada no folheto do museu; o restaurante abre as 11-zero-zero, como anunciado na porta; a academia encerra as suas atividades as 23h00, portanto 22h30 e o limite para voce encerrar as suas atividades fisicas para que os funcionarios possam fazer a limpeza dos equipamentos e fechar a academia no horario determinado; as reunioes comecam as 17h15, nao mais ou menos as 17h ou entre 17h e 17h30; as 8h45 e 30 segundos voce pode ir ao trabalho porque a mesa que a loja prometeu que seria entregue ate as 8h45 ja esta devidamente instalada na sua sala de jantar.

E se eventualmente voce estiver perdido pelas ruas japonesas, pedir informacoes na rua e o interlocutor perguntar se voce esta de carro ou nao, pode ter certeza que a ideia dele nao e saber se a rua da mao ou nao. Outro dia a Sue pediu informacoes sobre como chegar a um determinado lugar e o cidadao se prontificou a desenhar um mapa, quase que com escalas, apontando o caminho mais facil e – claro - a indicacao dos minutos gastos em cada trecho: 2 minutos do ponto A ate B, mais 3 minutos do ponto B a C, de onde voce alcanca, explicava o mapa, o destino final em menos de 1 minuto (e ja que estamos tratando de precisao dos termos utilizados, acho que a “precisao suica” tambem merece uma revisao urgente para evitar injusticas...).

Para voce ser preciso e nao perder a reuniao, o trem ou o jantar, so mesmo tendo um relogio atomico de pulso. Ou simplesmente se programar para chegar ao local uns 6 minutos antes da hora determinada (e o que basta, partindo do pressuposto de que a margem de erro dos relogios mundias e de ate 5 minutos para mais ou para menos).

Outro dia em uma aula de conversacao em portugues (sim, tenho dado aulas para os meus colegas de firma) estava ensinando os meus alunos a dizerem as horas e disse a titulo exemplificativo que “o restaurante abre mais ou menos as 18 horas”. “Como isso e possivel?”; “Como e que voces se programam?”; “Hein?”; “Eu nao entendo...”. Foram mais ou menos com estas palavras de espanto que eles reagiram a explicacao de que o brasileiro costuma interpretar os ponteiros do relogio com uma certa flexibilidade (para nao dizer desleixo).

Definitivamente, “aproximadamente”, “cerca de”, “em torno de” ou “mais ou menos” sao termos que jamais sao utilizados no Japao quando se trata de marcacao de horas.

Alias vou ficando por aqui porque me programei para assistir ao telejornal das 20h17.