sexta-feira, 16 de março de 2007

Semaninha punk

Fui levado ao longo desta semana a alguns eventos corporativos/etilicos. Coisa comum aqui, costuma-se fazer reunioes enquanto se come e bebe. Sorte a minha, fa de comida tradicional japonesa, so fui a reunioes em restaurantes que servem "washoku" ou comida japa tradicional.

A colocacao do corporativo na frente do etilico acima foi proposital. A hierarquia dentro da empresa se estende para a vida comum. Seu chefe sempre vai ser seu chefe, o filho do seu chefe vai ser sempre o filho do seu chefe e, assim sendo, pode ter ascendencia ate sobre o seu filho. E uma hierarquia estanque, quase de castas.

Ta certo que estou numa empresa de atuacao global, acostumada com a vida globalizada, mas ainda assim existem estes resquicios do Japao mais tradicional, aquele que ao mesmo tempo que valoriza o trabalho (e por extensao as relacoes sociais intracorporacao) nao permite que o macho provedor segure a porta da sala de reunioes para a moca ou a senhora passar primeiro. E que faz com que voce seja malquisto se recusar um convite para beber de algum superior hierarquico. Eh quase como se recusar a participar de uma reuniao na qual o seu chefe pede para voce participar por ele nao poder (ou nao querer, whatever).

Enfim, esta semana tive uma boa demonstracao de como a cultura japonesa afeta a vida corporativa.

Falando em relacoes de trabalho, fui convidado pelo meu chefe para ir a Tsukiji, tradicional feira de peixes de Toquio. E la que acontece o famoso leilao de atums a partir das 4 da matina.

Nao acordei tao cedo assim, ate mesmo porque nao teria condicoes de acordar. Optamos por ir mais tarde, mais com o intuito de comer nos restaurantes localizados no entorno do mercado.

Alias comida aqui e uma coisa a parte. Tenho comido bem. Comida japonesa de verdade todos os dias, coisa que adoro. E gracas a dieta pobre em gorduras, tenho emagrecido cada vez mais...Logo, logo vou ter que comecar a pensar em trocar os ternos, que mais um pouco vai parecer um saco de batata.

Mas o intuito do post nao e falar de comida. E falar de como a distancia aproxima as pessoas.

A comecar pela minha relacao com o meu pai.

Verdade que eu sempre tive uma relacao muito mais proxima com a minha mae que com o meu pai, mas isso nao significa que a minha relacao com ele era das mais proximas.

Mas desde a morte dela venho (quer dizer, ele tambem vem) realizando um processo de aproximacao lento e constante.

Naquela epoca eu nao admitia a fraqueza dele diante da morte. Eu tive que durante muito tempo carrega-lo nas costas, digo emocionalmente, quando o que eu mais queria era que ele fizesse isso comigo. Foi a primeira vez que tinha percebido a fragilidade dele e nao podia admitir isso. E acabei me afastando dele.

Resumindo, a nossa relacao, entre indas e vindas, acabou culminando na separacao, com a minha saida da casa dele.

Mas ao contrario do que pode parecer, a minha saida nao foi porque me enchi de tudo.

Na verdade foi para mostrar a ele proprio que ele poderia se virar sozinho, sem ter que contar sempre e toda a hora com a minha ajuda. Enfim, praticamente uma inversao de papeis para mostrar que ele tambem poderia ser independente.

E a minha saida fez muito bem aos dois.

Para nao permitir um afastamento ainda maior, acabei me esforcando como nunca para aparar as arestas e ficar proximo dele. Todas as semanas eu o convidava para ir a minha casa para jantar e eu me preocupava sempre em fazer algo gostoso, especialmente gostoso. Ligava pra ele para saber como ele estava. E entre um vinho e outro, um prato e outro, um telefonema e outro, acabei concretizando boa parte de meus planos. Mas ainda restava uma certa distancia entre nos.

E acho que essa distancia acabou sumindo com a minha vinda pra ca. Desde o primeiro dia, temos nos falado por e-mail diariamente, trocando confidencias, falando e trocando dicas sobre a vida. Estou feliz por estar longe de meu pai e mais proximo do que nunca dele.

Diminuir a distancia que pode existir entre as pessoas, sentir que elas sao realmente a sua familia e demais.

E a minha familia vai crescendo com o aumento da distancia... aumentando tanto que se aproxima o dia em que vou comecar a constituir a minha propria.

Sempre achei que iria querer fugir desse momento. Mas envelhecemos e aprendemos o que a vida tem de melhor, ainda bem.

O fato e que o momento chegou e estou mais feliz do que nunca. Nao consigo parar de fazer planos para amanha...

Nao vejo a hora do futuro chegar, de construir uma vida adulta de verdade. Vida de responsabilidades de verdade, uma vida que afeta de forma irreversivel uma outra vida que te ama e que quer viver o mesmo futuro que o seu e que quer dividir o mesmo sonho. Uma vida em comum. Uma vida em comum com a mulher que eu amo, a mulher mais linda do mundo.

O futuro e um desafio grande e aproximar e manter as pessoas perto e maior ainda. Tao grande que o post anterior ja esta datado.

4 comentários:

Anônimo disse...

Saudade de você, velho. E lendo isso, mais saudade ainda, dos conselhos, das discretas vezes em que vc perguntou como andavam as coisas lá em casa, nunca protocolarmente, mas realmente preocupado e interessado. Bom ler isso e sentir como essa aproximação com seu pai tá te fazendo bem (e, principalmente, fazendo pra ele um bem que talvez ele nem sequer tenha esperado ter). Inspirador. Só me resta, agora, ligar pro velho e botar "Peixe Grande" no DVD. Abraço!
P.S.: E pelo finalzinho do post o Uóxintão foi enterrado!

Anônimo disse...

Você é mesmo the world's coolest jap, Makuta-san. Agora q vc mandou o link pra essa blog, li todos os posts de uma mergulhada só. Ri em alguns, fiquei surpresa em outros - do que se trata essa cozinha??? Como amante das panelas, entendo seu desalento... Mas esse post aqui foi o que mais me emocionou. Lindo mesmo. Tenho a filosofia de que amigos são a família que a gente ganha durante a vida - e você já faz parte dela faz um tempão.... se cuida aí, mano. beijocas

Anônimo disse...

Makuta-san,

O seu post do dia 16 de março me emocionou! Sério! Parece que eu me vi pensando e agindo no tempo emque morei fora do país! Eu também me aproximei muito dos familiares quando estava longe. É muito louco, mas a psicanálise explica!
A idéia desse blog foi sensacional. Não tenha preguiça de manter atualizado, pois certamente várias pessoas vão acompanhar.
Um abraço e maneira no álcool!!!
Sérgio

A.E. disse...

Makutinha,

Espero que todos esses seus sonhos virem realidade logo logo!

Me emocionei. Me surpreendi! Aliás, vc tem surpreendido muito ultimamente...rs

Felicidades por aí!
Amei o blog!

Beijões,
Bibi