Nestes momentos de expatriado as coisas erradas de sua patria comecam a ficar ainda mais erradas e as coisas certas ainda mais certas, as coisas belas, mais belas, e as feias, ainda mais feias. Em outras palavras, vive-se em constante contradicao, com as saudades das coisas simples que nao encontramos no dia-a-dia no estrangeiro convivendo lado a lado com um certo prazer morbido de ficar cuspindo no proprio prato em que comeu e ficar rogando praga contra a propria nacao.
E foi mais ou menos neste clima que resolvi comecar a ler "Contra o Brasil", um livro escrito no final dos anos 90 pelo Diogo Mainardi, aquele mesmo da Veja.
O livro resume-se a uma compilacao de impropriedades e juizos depreciativos contra o Brasil que teriam sido proferidos por estrangeiros ilustres como Levi-Strauss, Albert Camus, Theodore Roosevelt, Charles Darwin, dentre outros, e tambem por outros alienigenas obscuros em suas respectivas passagens pelo pais, que sao vomitados desaforadamente pelo personagem Pimenta Bueno, um Policarpo Quaresma as avessas.
"O analfabetismo cromatico dos nossos antepassados indigenas repercutiu negativamente nas artes plasticas do Brasil, tanto que geramos os piores pintores da historia universal, como notou a educadora alema Ina von Binzer"
"O Brasil e um pais em que as melhores ideias prostram-se diante dos mais primarios instintos."
"Em quinhentos anos de historia, os indios sempre foram ludibriados no comercio com os brancos. Essa incapacidade neolitica de compreender o real valor das mercadorias se arraigou na nossa cultura e acabou distorcendo de maneira irreparavel a economia do pais, que se fundou a partir de um mercado artificial de otarios."
"A cretinice geografica e uma constante na nossa historia. E siginificativo que um pais tenha sido descoberto por puro acaso, enquanto os portugueses buscavam o caminho para a India. O Brasil e um fruto de erro de calculo."
A leitura nao foi aborrecida. Foi decepcionante. Tem algumas passagens engracadas, mas no geral achei bem chato.
Chato nao porque a obra tem o objetivo de avacalhar o pais, mas justamente pela forma como a avacalhacao foi feita. A coluna semanal do Diogo, que lia por diversao (ainda que desgoste do ar superior de sua propria pessoa), e mais provocativa e debochada do que o livro.
Mas talvez a chatice nao seja culpa do autor. A razao pode estar na proporcao continental do esculacho em si, que acaba transformando o trabalho de qualquer pessoa para rebaixar o pais, por maior que seja, em vao.
Nao e preciso gastar dinheiro comprando o livro. Da pra ler tudo em uma tarde a toa na mega store mais proxima de voce. E quem nao gosta do cara nao tem do que reclamar pois nao estara dando dinheiro a ele.
sábado, 19 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Vergonha alheia
Vergonha alheia e como depressao.
Tanto um como outro sao termos vulgarizados que acabaram por ter seus verdadeiros sentidos esvaziados. Todo mundo diz a toda hora que a tem depressao ou sentiu vergonha alheia quando na verdade nao teve nem uma coisa nem outra.
Eu nunca tive depressao no sentido clinico da palavra mas a experiencia de sofrer de vergonha alheia ainda esta fresca na memoria.
A verdadeira vergonha alheia e sentida quando na conference call a advogada do outro lado da linha nao sabe explicar em ingles os impactos tributarios de uma nova operacao no Brasil ao cliente japones.
A verdadeira vergonha alheia e sentida tambem quando uma pergunta um pouquinho mais elaborada feita em ingles e respondida pelo lado brasileiro por um "how can I explain it..." precedido por murmurios intercalados por risadinhas forcadas, logo rebatido por um silencio constrangedor pelos interlocutores japoneses.
E a verdadeira vergonha alheia e sentida quando uma pessoa e corrigida pelo japones cada vez que respondia alguma coisa que nada tinha a ver com a pergunta feita em ingles.
E tambem e sentida a cada engasgada da mulher com o seu ingles macarronico, que aumenta a vontade ja quase incontrolavel naquele momento de virar uma avestruz e morrer eletrocutada apos enfiar a cabeca na entrada USB do computador.
Ou quando a advogada brasileira pergunta ao cliente japones se ele se importa se a explicacao for feita em portugues. A cereja que faltava.
Em terra de semi-analfabetos a beira da gradacao de investimento, quem manda um "the book is on the table" porreta carregado no sotaque e Shakespeare. Ou advogado de escritorio grande.
Tanto um como outro sao termos vulgarizados que acabaram por ter seus verdadeiros sentidos esvaziados. Todo mundo diz a toda hora que a tem depressao ou sentiu vergonha alheia quando na verdade nao teve nem uma coisa nem outra.
Eu nunca tive depressao no sentido clinico da palavra mas a experiencia de sofrer de vergonha alheia ainda esta fresca na memoria.
A verdadeira vergonha alheia e sentida quando na conference call a advogada do outro lado da linha nao sabe explicar em ingles os impactos tributarios de uma nova operacao no Brasil ao cliente japones.
A verdadeira vergonha alheia e sentida tambem quando uma pergunta um pouquinho mais elaborada feita em ingles e respondida pelo lado brasileiro por um "how can I explain it..." precedido por murmurios intercalados por risadinhas forcadas, logo rebatido por um silencio constrangedor pelos interlocutores japoneses.
E a verdadeira vergonha alheia e sentida quando uma pessoa e corrigida pelo japones cada vez que respondia alguma coisa que nada tinha a ver com a pergunta feita em ingles.
E tambem e sentida a cada engasgada da mulher com o seu ingles macarronico, que aumenta a vontade ja quase incontrolavel naquele momento de virar uma avestruz e morrer eletrocutada apos enfiar a cabeca na entrada USB do computador.
Ou quando a advogada brasileira pergunta ao cliente japones se ele se importa se a explicacao for feita em portugues. A cereja que faltava.
Em terra de semi-analfabetos a beira da gradacao de investimento, quem manda um "the book is on the table" porreta carregado no sotaque e Shakespeare. Ou advogado de escritorio grande.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Feriadinho
Hoje e feriado e o dia mais frio ate agora deste inverno.
La fora, 5 graus positivos e um vento forte e gelado.
E preciso muita forca de vontade para sair do quentinho do apartamento.
La fora, 5 graus positivos e um vento forte e gelado.
E preciso muita forca de vontade para sair do quentinho do apartamento.
Cidade mais feia do mundo
O que me assustou nao foi a violencia, que parece que e uma coisa que so existe no Quenia.
Mas a cidade tem muito da agressividade que nao deve existir nem em Nairobi: motoristas estressados, transito caotico, os concretos sem a maquiagem mal-feita.
E a Lei Cidade Limpa ainda fez o favor de deixar a cidade ainda mais agressiva. Sao Paulo, que nunca foi Paris, esta cada vez mais La Paz. E se a Bolivia tem o cemiterio de trens, o Brasil tem o cemiterio da arquitetura urbana.
Estao la expostos, na maior metropole brasileira, como cadaveres sendo comido aos poucos por vermes, os concretos carcomidos pela poluicao, as fachadas maltratadas pelo bolor, as estruturas metalicas expostas, as calcadas com a padronagem indefinidas, os asfaltos e calcadas mais esburacadas, os predios agredindo a visao.
Se soubessem da sujeira que estava por baixo, acho que nao teriam tirado o tapete do lugar.
Mas a cidade tem muito da agressividade que nao deve existir nem em Nairobi: motoristas estressados, transito caotico, os concretos sem a maquiagem mal-feita.
E a Lei Cidade Limpa ainda fez o favor de deixar a cidade ainda mais agressiva. Sao Paulo, que nunca foi Paris, esta cada vez mais La Paz. E se a Bolivia tem o cemiterio de trens, o Brasil tem o cemiterio da arquitetura urbana.
Estao la expostos, na maior metropole brasileira, como cadaveres sendo comido aos poucos por vermes, os concretos carcomidos pela poluicao, as fachadas maltratadas pelo bolor, as estruturas metalicas expostas, as calcadas com a padronagem indefinidas, os asfaltos e calcadas mais esburacadas, os predios agredindo a visao.
Se soubessem da sujeira que estava por baixo, acho que nao teriam tirado o tapete do lugar.
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