Fui levado ao longo desta semana a alguns eventos corporativos/etilicos. Coisa comum aqui, costuma-se fazer reunioes enquanto se come e bebe. Sorte a minha, fa de comida tradicional japonesa, so fui a reunioes em restaurantes que servem "washoku" ou comida japa tradicional.
A colocacao do corporativo na frente do etilico acima foi proposital. A hierarquia dentro da empresa se estende para a vida comum. Seu chefe sempre vai ser seu chefe, o filho do seu chefe vai ser sempre o filho do seu chefe e, assim sendo, pode ter ascendencia ate sobre o seu filho. E uma hierarquia estanque, quase de castas.
Ta certo que estou numa empresa de atuacao global, acostumada com a vida globalizada, mas ainda assim existem estes resquicios do Japao mais tradicional, aquele que ao mesmo tempo que valoriza o trabalho (e por extensao as relacoes sociais intracorporacao) nao permite que o macho provedor segure a porta da sala de reunioes para a moca ou a senhora passar primeiro. E que faz com que voce seja malquisto se recusar um convite para beber de algum superior hierarquico. Eh quase como se recusar a participar de uma reuniao na qual o seu chefe pede para voce participar por ele nao poder (ou nao querer, whatever).
Enfim, esta semana tive uma boa demonstracao de como a cultura japonesa afeta a vida corporativa.
Falando em relacoes de trabalho, fui convidado pelo meu chefe para ir a Tsukiji, tradicional feira de peixes de Toquio. E la que acontece o famoso leilao de atums a partir das 4 da matina.
Nao acordei tao cedo assim, ate mesmo porque nao teria condicoes de acordar. Optamos por ir mais tarde, mais com o intuito de comer nos restaurantes localizados no entorno do mercado.
Alias comida aqui e uma coisa a parte. Tenho comido bem. Comida japonesa de verdade todos os dias, coisa que adoro. E gracas a dieta pobre em gorduras, tenho emagrecido cada vez mais...Logo, logo vou ter que comecar a pensar em trocar os ternos, que mais um pouco vai parecer um saco de batata.
Mas o intuito do post nao e falar de comida. E falar de como a distancia aproxima as pessoas.
A comecar pela minha relacao com o meu pai.
Verdade que eu sempre tive uma relacao muito mais proxima com a minha mae que com o meu pai, mas isso nao significa que a minha relacao com ele era das mais proximas.
Mas desde a morte dela venho (quer dizer, ele tambem vem) realizando um processo de aproximacao lento e constante.
Naquela epoca eu nao admitia a fraqueza dele diante da morte. Eu tive que durante muito tempo carrega-lo nas costas, digo emocionalmente, quando o que eu mais queria era que ele fizesse isso comigo. Foi a primeira vez que tinha percebido a fragilidade dele e nao podia admitir isso. E acabei me afastando dele.
Resumindo, a nossa relacao, entre indas e vindas, acabou culminando na separacao, com a minha saida da casa dele.
Mas ao contrario do que pode parecer, a minha saida nao foi porque me enchi de tudo.
Na verdade foi para mostrar a ele proprio que ele poderia se virar sozinho, sem ter que contar sempre e toda a hora com a minha ajuda. Enfim, praticamente uma inversao de papeis para mostrar que ele tambem poderia ser independente.
E a minha saida fez muito bem aos dois.
Para nao permitir um afastamento ainda maior, acabei me esforcando como nunca para aparar as arestas e ficar proximo dele. Todas as semanas eu o convidava para ir a minha casa para jantar e eu me preocupava sempre em fazer algo gostoso, especialmente gostoso. Ligava pra ele para saber como ele estava. E entre um vinho e outro, um prato e outro, um telefonema e outro, acabei concretizando boa parte de meus planos. Mas ainda restava uma certa distancia entre nos.
E acho que essa distancia acabou sumindo com a minha vinda pra ca. Desde o primeiro dia, temos nos falado por e-mail diariamente, trocando confidencias, falando e trocando dicas sobre a vida. Estou feliz por estar longe de meu pai e mais proximo do que nunca dele.
Diminuir a distancia que pode existir entre as pessoas, sentir que elas sao realmente a sua familia e demais.
E a minha familia vai crescendo com o aumento da distancia... aumentando tanto que se aproxima o dia em que vou comecar a constituir a minha propria.
Sempre achei que iria querer fugir desse momento. Mas envelhecemos e aprendemos o que a vida tem de melhor, ainda bem.
O fato e que o momento chegou e estou mais feliz do que nunca. Nao consigo parar de fazer planos para amanha...
Nao vejo a hora do futuro chegar, de construir uma vida adulta de verdade. Vida de responsabilidades de verdade, uma vida que afeta de forma irreversivel uma outra vida que te ama e que quer viver o mesmo futuro que o seu e que quer dividir o mesmo sonho. Uma vida em comum. Uma vida em comum com a mulher que eu amo, a mulher mais linda do mundo.
O futuro e um desafio grande e aproximar e manter as pessoas perto e maior ainda. Tao grande que o post anterior ja esta datado.