terça-feira, 4 de novembro de 2008

Já mudou alguma coisa do lado de lá


Japonês via de regra não tem qualquer entusiasmo para discutir política.

Para eles, é uma dessas coisas da vida que são inevitáveis e imutáveis, como o fato do Partido Liberal Democrata dominar o cenário político japonês por décadas.

Mas tudo muda de figura em uma sonolenta cidade portuária do Japão, onde as eleições americanas são objeto de calorosas discussões pelas ruas e objeto de matérias e mais matérias pelas televisões japonesas.

Desde as primárias existiam torcidas organizadas para apoiar o Obama e os debates eram transmitidos ao vivo pelas cidades em telões e tevês colocadas em locais de aglomeração pública. Pessoas vestidas com camisetas coloridas com os dizeres “I Love Obama” podem ser encontradas facilmente pelas ruas. Pequenas multidões não param de bradar “Obama, Obama, Obama”. Nos pequenos comércios da cidade, os comerciantes vendiam de tudo desde camisetas, sanduíches, bolos e palitinhos com o nome “Obama” estampado. Como Copa do Mundo no Brasil.

O curioso é que talvez não more nenhum norte-americano por lá. Talvez ninguém fale inglês na cidade.

Ainda assim, a cidade e seus moradores foram alvo até de agradecimento pessoal do candidato democrata. Tudo porque ela também se chama Obama.

Agora os seus moradores sonham com uma visita oficial do candidato da mudança à cidade diante da possibilidade dele se eleger o primeiro presidente negro dos EUA.

domingo, 12 de outubro de 2008

Balancinho

Foi um período muito marcante de minha vida.

Uma época em que passsei a morar junto com a Sue e a idéia de contrair matrimônio realmente ganhou (muita) força.

Tempos de amadurecimento pessoal e profissional.

Dias em uma das cidades mais vibrantes do mundo.

Experiência de viver em um lugar que as coisas dão certo e é possível fazer planejamentos a longo prazo.

Gostaria de agradecer o imenso carinho das pessoas com quem convivi nos meus Tokyo days. Até chorei sozinho no trem ao ler a mensagem de despedida das pessoas. Realmente foi muito gratificante saber que consegui de uma certa forma deixar uma marquinha em suas vidas. No final das contas, é isso que fica, saudade das pessoas.

Sinal de que foi bom.

Em um futuro próximo...

Estive as últimas semanas envolvido no processo de mudança de continente e não tinha tempo para postar nada. De volta ao Brasil, mergulhei no processo de organização do casório e procura de apartamento, então também não tive tempo de postar.

A verdade é que este blog acabou entrando num processo meio de limbo, pois ainda estou trabalhando a decisão de encerrar de vez o blog ou se vou postando de vez em quando alguma coisa que der na telha.

Enquanto nenhuma decisão é tomada, preciso logo confessar que fiquei assustado com o trânsito de São Paulo.



O que presenciei logo na primeira semana de Brasil foram motociclistas andando pela calçada e avançando sobre quem estivesse sobre ela, motoristas barbarizando pedestres que estão tentando atravessar a rua sobre a faixa de pedestres, caos e desordem provocada pela pressa e pela vontade de querer antes de mais se dar bem, disposição dos carros parados nos congestionamentos que lembrava uma cena de destruição causado por algum desastre natural, pessoas nervosas que não pensam 2 vezes antes de afundar a mão na buzina, ruas esburacadas e horrorosas, medo de ser atacado, abalrroado, assaltado.


O futuro próximo de Mad Max já chegou.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ame-o ou deixe-o ou welcome to the jungle


Comeco a pensar se foi mesmo uma boa ideia retornar agora ao Brasil.

Onde fica mesmo a saida mais proxima para a civilizacao?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"Suppon"


As ultimas semanas que me restam no Japao estao sendo preenchidas por jantares diarios com diversas pessoas com quem convivi e trabalhei junto nestes tempos de Toquio. Tudo parte do meu "soubetsukai", "festa de despedida" ou "farewell party", para os globalizados.

Estou tentando nao repetir os pratos, comendo cada dia em um restaurante diferente com especialidades diversas. As vezes e necessario pensar muito para nao repetir. Mas para repetir a de ontem, acho que vai ser bem complicado.

Experimentei pela primeira vez o "suppon nabe", um cozido de uma especie de tartaruga carnivora que existe por aqui. Sim, o bicho, alem de cascudo, e carnivoro, se alimenta tambem de pequenos passaros que ficam vacilando na beira dos rios. Nao a toa, foi a inspiracao do "Gamera" (fotos), avo do Gojira (ou Godzila para os globalizados) e outros monstros gigantes que sempre insistem em destruir Toquio.

No imaginario local, pelo fato da dita cuja ser repleta de colageno, acredita-se que faz muito bem a pele e tambem da uma energia, um gas extra a quem o consome.

Para acompanhar, um copo do tradicional sangue de "suppon".

A iguaria veio servida em pequenas pecas cozidas em uma panela com caldo de "suppon", vegetais, tofu e shitake. O sabor e proximo de um frango, mas revestido de uma cartilagem macia e de consistencia gelatinosa. Como ficar tentando imaginar qual a parte da tartaruga que esta sendo colocada na boca pode dificultar as coisas, o jeito foi comer sem ficar olhando muito para a cumbuca ou estrategicamente colocar o shitake por cima da carne para dar uma disfarcada.

Quanto ao sangue, pelo fato de vir misturado a um suco de uvas (acho que era uva), tem um sabor proximo a de uma sangria. O seu cheiro nao incomoda, mas tambem nao e a coisa mais agradavel do mundo. Basta nao se incomodar com os pedacos de coracao picado que ficam no fundo do copo, fungar o necessario somente para respirar e nao sentir o cheiro e mandar tudo goela abaixo.

Toda a refeicao ainda foi acompanhada de aguardente coreana e uma especie de cerveja branca coreana.

Em resumo, apesar de parecer assustador e bizarro, o sabor, quer da tartaruga carnivora, quer do sangue nao e ruim. Mas tambem nao me faz ter vontade de comer de novo esse prato num curto prazo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Dias tristes

Hoje a Sue partiu para o Brasil.

Serao mais de 2 semanas de intenso sofrimento por estar sem metade da minha vida.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Podem me chamar de idiota, mas nao vou tirar carteirinha de estudante

Em um pais civilizado como o Japao, a aquisicao de um ingresso para um evento hiper-mega concorrido nao exige preparacao fisica ou aquisicao de material de camping. Basta um calendario e uma agenda organizada.

Chegado o momento em que os ingressos comecam a ser vendidos, faz-se um telefonema ou manda-se um e-mail para a organizacao e de pronto eles lhe mandam uma senha, que deve ser informada em qualquer loja de conveniencia, pagar o valor em dinheiro, celular, qualquer cartao de credito, debito e ter em segundos os ingressos desejados. Sempre saimos limpinhos depois do processo de aquisicao dos ingressos.

Por desejar uma nacao com uma dose menos cavalar de selvageria, voltando ao Brasil vou ver quanto tempo sobrevivo sem recorrer ao jeitinho, a malandragem ou a carteirinha de estudante.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Do Thrash Metal e "kohaku utagassen"

Assistindo a TV logo que cheguei no Japao, vi um sujeito cabeludo de rosto conhecido mandando um japones perfeito em um programa de entrevistas.

Fiquei muito tempo tentando lembrar quem era aquela figura familiar, eis que descubro que o ser era nada mais nada menos que o Marty Friedman, um dos guitarristas do Megadeth, banda americana muito influente no cenario thrash-metal/speed-metal nos anos 80/90.

O Megadeth, para quem nao sabe, era a banda “rival” do Metallica. O ponto de conexao entre as duas bandas era o Dave Mustaine, que participou do Metallica antes deles virarem Metallica. O cara era tao casca grossa e barra pesada – o maluco era traficante de drogas e acabou entrando pro mundo do heavy metal porque um de seus clientes sempre trocava drogas por discos de metal - que acabou sendo expulso da banda. Em que pese a sua expulsao, diversas musicas de sua autoria entraram nos primeiros discos do Metallica - as classicas “Kill’em All” e “Ride the Lighthning” - sendo “Four Horsemen” a mais classica de todas elas. Saiu do Metallica e montou o Megadeth, que veio a estourar nas paradas um pouco depois.

Marty Friedman hoje em dia e celebridade no Japao, onde mora desde 2003 e participa constantemente de shows televisivos.

O cara ta tao japones que ate participou de um “Kohaku Utagassen”, o programa de TV mais mega-super-hiper tradicional Japao que ja ha algumas decadas vai ao ar sempre na virada do ano. Este programa divide os cantores de destaque no cenario musical japones em dois times – o vermelho e branco, cores da bandeira nacional – que disputam ao longo de algumas horas qual o grupo que reune os melhores cantores/cantoras, que em turnos vao se apresentando ao publico e ganhando pontos atribuidos pelos jurados com base na performance visual/musical de cada um. Obviamente vence o grupo com mais pontos. Nao lembro quais sao os premios ao grupo vencedor, mas se for seguir o padrao das premiacoes dos programas de TV japoneses, talvez cada um leve para casa ao final uma cesta de frutas, 3 kilos de carne de “wagyu” ou um saco de cogumelos raros desidratados.

Acabei mudando de assunto(s) no meio do post, mas queria dizer que senti uma nostalgia incrivel quando via a figura do Marty Friedman na TV. Saudades de meus tempos adolescente head-banger. Tanto ouvia o CD dos caras – do Megadeth, que fique claro - que nao era incomum o disquinho quebrar depois de alguns meses.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Fim de semana

Sexta-feira fiz a cobertura fotografica de um dos ultimos desfiles da Japan Fashion Week Spring Summer 2009 junto com a Sue, que ja havia acompanhado outros desfiles desta temporada. Veja a cobertura no www.dropsmagazine.com.br.

Domingo fui a uma das apresentacoes com casa cheia que o grupo brasileiro Companhia Tamandua de Danca-Teatro, referencia em butoh no Brasil, fez em Toquio. Nao entendo nada de danca, muito menos de butoh, mas nao foi muito agradavel ver atores e seus corpos gordos sem roupa encenando.

Esta semana

Nesta semana comecam oficialmente os eventos de despedida do casal japa mais cool do Brasil da terra do sol nascente, com uma sequencia diaria de jantares. Haja sal de fruta.